Brasil é um dos maiores predadores ilegais de tubarão do mundo

03/11/2011 04:32
Por João Ximenes e Viviane Rosas
 
No Brasil, a carne de cação, tubarões pequenos, que são comercializados para o consumo de pescados, é comumente apreciada nos quatro cantos do país e é facilmente encontrada em diversos lugares como feiras-livres, peixarias, supermercados, e restaurantes e outros. Segundo a “Pesquisa Nacional de Comportamento e Percepção do Consumidor de Cação”, realizada em janeiro de 2010, pelos integrantes do Projeto de Tubarões no Brasil (PROTUBA) e pelo Instituto Ecológico Aqualung, foram entrevistadas 1.400 pessoas em todo o território nacional.
 
Dentre o total de entrevistados, 37% afirmam consumir a carne de cação no Brasil. A maioria deles, 58%, diz consumir a carne cação em casa; já os que consomem mensalmente representam 19%, e eventualmente, 58%.  Estes, por sua vez, costumam comprar mais em peixarias (42%) e em supermercados (32%). E em todo o país, o estado que mais consome a carne de cação é São Paulo, representando 69% do total de consumidores. No Rio, o consumo é de apenas 6%, e em outros estados, o consumo é de 25%.
 
Além disso, o animal marinho é um dos mais baratos e mais vendidos no mercado. Segundo uma análise de preços, realizada em outubro deste ano, pelos pesquisadores da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP): O camarão rosa grande é o mais caro de todos e está custando R$ 58 por kg; já o mais barato deles, o Savelha, está custando R$ 0,60 o quilo, e o cação R$ 4,50, atraindo uma grande quantidade de consumidores.
 
No entanto, os grandes apreciadores do cação devem ficar atentos ao consumo ilegal deste animal. A bióloga Lúcia Malla alerta os consumidores em seu blog ecológico, “Uma Malla pelo mundo”: “Nunca compre cação. Nunca coma cação, independente de onde você more. Tubarões ou cações são peixes ameaçadíssimos de extinção no mundo inteiro e ao comê-los, você incentiva o tenebroso comércio de barbatanas pra China. Além do mais, tubarão/cação, como animal do topo da cadeia ecológica, é um dos peixes que mais acumula mercúrio na sua carne, o que é péssimo para a saúde humana. Tubarão não é saudável”.
 
De acordo com a bióloga, ainda há muitos brasileiros inconscientes dos prejuízos que causam simultaneamente ao seu organismo e ao ecossistema marinho. Além disso, tantos os pescadores, os donos de restaurantes e os comerciantes continuam gerando lucros e benefícios sobre a população desprovida de informações sobre a pesca desenfreada de tubarões. Em consequência desse consumo, 43 por cento das espécies de tubarão no litoral brasileiro já se encontram em extinção.
 
Em um recente relatório feito pela Organização das Nações Unidas (ONU), anualmente cerca de 100 milhões de tubarões são capturados e mortos, sendo que, desse total, cerca de 50% a 70% são caçados apenas para se tornar “sopa de barbatana”, o que corresponde a prática predatória do “finning” (prática predatória ilegal comumente realizada na Ásia, que consiste em matar um tubarão para retirar sua barbatana, e por fim, descartar a carcaça no mar). Em grande parte do planeta, tal prática é concluída da forma descrita acima. No Brasil, os restos mortais da carne do tubarão são reaproveitados no comércio para o consumo de toda a população brasileira, representando um lucro “limpo” para o pescador.
 
No entanto, todos os pescadores brasileiros sabem que no mercado asiático, a barbatana é o bem mais cobiçado de um tubarão. Em um recente estudo realizado pela Universidade New Sotheastern, na Flórida (EUA), constatou-se que Hong Kong (China) representa um dois maiores mercados de nadadeiras de tubarão no mundo, e um quilo da nadadeira pode custar até 700 dólares. Além disso, dentre todas as nadadeiras comercializadas ilegalmente no mundo, 21 por cento vinham do Oceano Atlântico Ocidental, área que inclui o Brasil. Ou seja, o país representa uma grande participação no tráfico de barbatanas de tubarão.
 
O diretor do Instituto Ecológico Aqualung e do Protuba, Marcelo Szpliman,  afirma que, além do consumo ilegal da carne de tubarão no planeta, eles são considerados animais pacíficos e que jamais atacam a não ser que sejam primeiramente atacados. “Mas já está na hora de desmitificar a imagem sensacionalista e irreal do tubarão como o “terror dos mares”... Tenho mergulhado com tubarões ao redor do mundo, incluindo as três espécies "mais perigosas", com o objetivo de mostrar que é perfeitamente possível interagir de forma amistosa com esses seres fantásticos... Você pode mergulhar com um tubarão sem saber se ele se alimentou nos últimos dias e, com certeza, ele irá te respeitar e não atacará”, declara.
 
Marcelo também adverte a população mundial que a extinção total destes seres marinhos, que existem há mais 450 milhões de anos, poderá ocorrer dentro de alguns anos, caso as pessoas não tenha consciência do comércio ilegal de tubarões. “Nesse ritmo de consumo insustentável, algumas espécies serão extintas nos próximos anos. E sem esses guardiões dos mares, teremos um ambiente marinho doente, frágil e com desequilíbrios ambientais imprevisíveis”, explica ele.